sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Esse merece ser lido!

Esse eu não pude resistir em colocar no meu blog... afinal, o tema nos inspira! rs. boa leitura e dá-lhe Vinícius! (mais um texto muito bom do meu irmão)

Faróis

olha, então vocês saem pra jantar e é tanta conversa, tanto assunto, que a comida sempre fica deliciosamente fria. você faz brigadeiro pra ele, bem amélia, porque é mesmo só o que você sabe fazer na cozinha. e sente vontade de descer todos os livros do armário e juntar com todos os seus cd's e emprestar ou mesmo dar a ele tudo o que de mais querido você possui. você dá até um jeito de saber com que cor de camisa ele vai sair, pra sair igual, fazendo o tão falado mimetismo de amor. e sente o seu coração como a caixa-forte do tio patinhas, todo cheio de placas a dizer ao mundo “suma! dê o fora! saia! porque eu só quero bater no ritmo do nome dele”. tudo o que você vê de bonito, de mais bonito, você quer mostrar ou pelo menos contar a ele. toda música, todo poema e todo lugar bonito é de vocês e de mais ninguém. quando você tem 11 anos e é maior que ele porque as meninas crescem antes, você vai à festinha do prédio com uma sandalinha bem rasteira e é até capaz de ficar descalça se preciso for, pra dançar de rosto colado com ele, que é mais baixo um pouquinho que você, porque é uma delícia ouvi-lo dizer que seu perfume é bom e seu cabelo é macio – e vocês não se beijam, mas a euforia compensa. quando você tem 27 anos e ele é bem mais alto que você, você usa salto alto, mesmo adorando suas sandálias, porque você quer ficar da altura dele e dançar de rosto colado como se tivesse 11 anos. e você fica mais chata que o habitual, porque só fala nele. e fica menos ranzinza, mas sempre ranzinza, pelo menos com o relógio que insiste em te separar dele. e você flutua mais do que anda, suspira mais do que fala, sorri mais do que pensa. você agora vive com aquele sorriso bobo na cara, aquele sorriso que todo mundo sabe do que se trata. então não consegue falar direito o que sente, sem gaguejar, sem ficar com a boca seca, aí escreve pra ele. escreve poemas de pé quebrado, cartas ridículas, bilhetes, cartões, crônicas, contos eróticos, mails. você conta pra ele daquela sua professora que virou sua amiga; aquela história toda de como os seus pais se casaram; que adora Belo Horizonte e que “em Belo Horizonte existe um lugar / bonito e tranqüilo / pra gente se amar”. você se arruma pra ele – o vestido, a sandália, o perfume, o cabelo, o sorriso, a alma. e pensa em dar de presente a ele uma camisa azul; um livro seu; você mesma envolta em fitas. você quer dormir de colher com ele – no fundo você não quer dormir! você quer é amá-lo “até o gás acabar / até morrer”, como naquela canção. e se arrepende de não saber tocar nada, de ser assim desafinada e não poder fazer serenata pra ele. então você vai falar com alguém no seu trabalho e chama o nome dele, mesmo não trabalhando com ninguém com aquele nome – e seus colegas lhe olham como a uma louca varrida. e você sente que faria tudo no mundo pra que ele nunca mais chorasse ou sofresse na vida, mesmo sabendo que isso é impossível. então, você coloca o nome dele no seu livro de orações, pedindo tão somente que a cada dia ele tenha alegrias como as infantis – as melhores. e, no fim das contas, tudo em você é sinal de que, felizmente, há alguém nesse mundo e nesse momento, apaixonado. isso tudo forma um farol que cega á todos que te cruzam o caminho e cega á todos, incluindo eu, que estou sentado a observar toda essa alegria enquanto você passa e tudo parece ser motivo para um sorriso á mais.

do arquivo oculto que observa, desejando sorte e algo parecido, mas logo tira isso da cabeça e acende outro cigarro.

2 comentários:

Revisora do P... disse...

Fico feliz de ver um homem escrevendo coisas tão bonitas. E que mesmo que não sejam ele, ele consiga entender.

Shirlei Marina disse...

Pois é Bruna, além de ficar feliz eu fico orgulhosa, porque afinal é o meu irmãozinho né. rs. beijos.